Não existe a panaceia, algo que cura todas as doenças. E todo remédio, tem efeitos colaterais. Isso é verdade para pessoas físicas e jurídicas, sejam viroses ou perdas financeiras.

O Lean vem se estabelecendo como a grande referência para a gestão das empresas no mundo moderno. Como especialista e pesquisador de Lean, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que essa filosofia que nasceu na Toyota e hoje ganha o mundo é muito eficaz. Mas ela não é a panaceia e é importante entender-se seus efeitos colaterais…

Uma empresa que investe em Lean se torna a cada dia mais ágil, limpa, sem desperdícios. Isso elimina a necessidade de estoques intermediários e de produto acabado: se o cliente pedir algo, em pouco tempo se produz algo com qualidade.

Mas o Lean vai além. A visão do “Lean Enterprise” leva a filosofia Lean para toda a cadeia produtiva. Se tudo funcionar bem, com todas as empresas muito bem estabelecidas como Lean internamente, as empresas se conectam perfeitamente, as entregas ficam rápidas e confiáveis e grandes estoques de matéria-prima deixam de ser importantes. Isso já é verdade nas montadoras, que hoje tem estoques de poucas horas, porque já estabeleceram uma relação de grande confiança com seus fornecedores.

Empresas Lean são estáveis, com poucas variações. Cadeias produtivas Lean tem uma relação de sinergia e confiança muito forte. E o Japão, onde o Lean foi criado e testado, é um país com infraestrutura farta e confiável e governos que se sucedem sem grandes mudanças. Enfim, tudo converge para uma situação de grande previsibilidade. Lean foi criado e testado em um ambiente onde empresas, governo, infraestrutura, tudo é muito estável.

Mas o Brasil não é o Japão. Nossa infraestrutura é precária e não confiável. E, neste momento terrível para nossas empresas, enfrentamos uma semana sem transportes. Isso impacta fortemente a integração entre empresas. Em especial, empresas Lean, que trabalham com entregas constantes, sofrem mais fortemente esse impacto, porque não tem estoques para absorver tamanha variação. A perda de produção, de vendas, ou seja, de dinheiro, das empresas Lean, seja de indústrias sem matéria-prima, seja supermercados sem produtos na prateleira, está sendo realmente muito grande. Porque Lean não foi criado para um ambiente de instabilidade.

O importante, em um momento difícil como este, é não deixar que o pânico ofusque o racional. Sim, Lean talvez aumente o prejuízo momentâneo causado por essa paralisação. Mas o que se deve avaliar, com muita atenção, é se o ganho na maior parte dos dias não compensa a perda nesse momento de crise pontual. Certamente, para a maior parte das empresas, ficará claro que Lean vale a pena, apesar das perdas neste momento. Se a sua empresa, no entanto, viver em um ambiente muito conturbado, mais instável, com muita frequência, talvez seja necessário rever o nível dos estoques, o relacionamento com fornecedores e os processos internos, de forma a ter mais segurança frente as variabilidades do mercado.

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