Estudo recente (publicado em 2014) do IPEA, apresenta um retrato tenebroso da produtividade no Brasil. O trabalho, bastante extenso e fundamentado, não deixa dúvidas: o brasileiro até trabalha muito, é inegável, mas trabalha mal. Ou, pelo menos, o resultado do seu trabalho não chega a um quinto daquilo que produz um trabalhador americano.
O índice chamado Produtividade do Trabalho (resultado da divisão do PIB pelo número de trabalhadores) aponta para uma realidade de dar dó: no Brasil, cada trabalhador produz o equivalente a U$ 17 mil / ano, ao passo que o trabalhador americano produz o equivalente a U$ 93 mil! É um resultado que nos devia encher de vergonha – mais até que os 7 x 1 da Alemanha.
As comparações são humilhantes, sob todos os aspectos. Os números da Coreia do Sul são especialmente amargos, uma vez que, até a década de 80, a Produtividade do Trabalho dos dois países era semelhante, ao redor de U$ 11 mil por trabalhador. A partir daí, conseguimos avançar para os mencionados U$ 17 mil, ao passo que os coreanos tomaram o elevador expresso para o primeiro mundo, atingindo U$ 55 mil/trabalhador.
Quer dizer: em 30 anos, com planejamento, firmeza de propósitos e trabalho, eles foram capazes de agregar U$ 44 mil à sua Produtividade, enquanto nós, com nosso particular jeitinho festeiro, a duras penas adicionamos mais U$ 6 mil. É uma vergonha tão grande que dá vontade de pedir pra sair.
Se pensarmos em termos de Nação, e do que isso significa para as nossas vidas, é infinitamente pior do que tomar de sete da Alemanha.
Responda com sinceridade: se tivéssemos seguido a mesma trajetória e alcançado uma produtividade semelhante, precisaríamos de tantos programas sociais, tantas políticas de inclusão, tantos vales-miséria e outras presepadas?
O estudo do IPEA apresenta resultado de uma pesquisa feita entre empresas de todo o Brasil em busca dos maiores obstáculos, na percepção delas, para ampliação da produtividade. O resultado, em porcentagem, está demonstrado no gráfico abaixo.
Surpresa, surpresa! Baixa qualidade da Mão de Obra, decorrência um ensino canhestro, ocupa o primeiro lugar da lista, com 67% das respostas.
Trata-se de uma realidade perversa: as escolas não formam, a indústria não contrata e o país não se desenvolve. Além de retrabalhos e ineficiências diversas, a baixa escolaridade impede que processos mais sofisticados sejam implantados no país, detentor do diploma de eterno exportador de commodities (enquanto durem), candidato vitalício a potência de um futuro que caminha no galope de uma mula claudicante, ou, no máximo, montador dedicado de peças e componentes projetados e idealizados fora daqui.
Só por curiosidade, que tal dar uma olhadinha no ensino sul-coreano?
- 98% da população alfabetizada.
- 220 dias letivos ao ano.
- 1º país do mundo a equipar todas as escolas com internet banda larga.
- 10 horas de estudo diárias para das 80% crianças e adolescentes.
- 97% dos alunos concluem o Ensino Médio.
- 60% dos cidadãos entre 25 e 34 anos cursaram a universidade.
Isso tudo com um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,909, 12º mais elevado do mundo (o Brasil, ainda por curiosidade, com 0,730, ocupa a 85ª posição, atrás de, pela ordem e só entre latino-americanos: Barbados, Chile, Argentina, Bahamas, Uruguai, Cuba, Panamá, México, Costa Rica, Antígua e Barbuda, Trinidad e Tobago, Venezuela, Dominica, São Cristovão e Nevis, Peru, São Vicente e Granadinas, e Jamaica, companheiros!).
Nada de evasão escolar, progressão continuada, professores mal remunerados, escolas depauperadas…
É. Quase igual…
O que se segue é parte de um circulo vicioso. A baixa escala de produção – segunda causa mais citada – impede a amortização de investimentos; a escala não sobe porque não há renda e não há renda porque não há produtividade; exportar poderia aumentar a escala, mas a baixa produtividade e os conhecidos gargalos logísticos tornam os produtos pouco competitivos, inviabilizando exportações.
Listados como terceira causa, fornecedores de baixa qualidade, em termos de confiabilidade, prazos e custos, além da conformidade intrínseca dos produtos, são consequência desse cenário; sem fornecedores competentes, não há incremento de escala nem desenvolvimento de tecnologia.
Infraestrutura inadequada, transporte caro, burocracia e empecilhos de toda ordem, impedem o desenrolar adequado dos negócios.
Esse é outro ponto que merece reflexão. Relatório do Banco Mundial chamado Doing Business, elabora um ranking de países baseado em critérios de fácil compreensão e internacionalmente comparáveis, tais como: facilidade para abertura de empresas, concessão de alvarás, registro de propriedades, obtenção de crédito, proteção a investidores, pagamento de impostos, comércio entre fronteiras, execução de contratos, resolução judicial de insolvências e, até mesmo, facilidade de obtenção de uma conexão de eletricidade.
O resultado é mais um desastre, mas não chega a ser surpreendente: entre 2006 e 2014 houve, em todo o mundo, significativo avanço no ambiente dos negócios, ao passo que no Brasil verificou-se uma ruidosa estagnação. Em 2006 ocupávamos a nada honrosa 119ª posição num ranking de 173 países; em 2014, devido a mencionada estagnação, regredimos para 140ª – fomos superados até mesmo pela África subsaariana, a chamada África negra, que ocupa o continente abaixo do Deserto do Saara.
A única e honrosa exceção parece vir do campo, onde investimentos continuados em tecnologia, pesquisa genética e técnicas de manejo, tem elevado a Produtividade do setor. A pergunta que fica, porém, é apenas uma, embora ensurdecedora: do que adianta termos produtividade de soja comparável à americana (3,011 T/ha no Brasil x 3,213 T/ha nos EUA) se as carretas estufadas de grãos ficam paradas até quatro dias na fila de entrada do porto de Santos?
Como desatar esse nó?
Texto escrito pelo Engenheiro Afrânio F. S. Silva, com larga experiência na área industrial